Estivemos, mais uma vez, nas Festas de Lisboa do corrente ano cobrindo parte destes eventos um dos mais extensos, porquanto cobre todo o mês de Junho, e participados do nosso território. Só na passagem das Marchas na Avenida da Liberdade, na noite do dia 12, mais de 150 mil pessoas lotavam aquela larga via da capital.
Estas apreciadas Marchas Populares remontam a 1932 por iniciativa dos jornais Diário de Lisboa e Notícias Ilustrado, tendo como primeiros participantes os bairros de Alfama, Madragoa, Alto do Pina, Bairro Alto e Campo de Ourique, tendo este sido o primeiro classificado. Mais iniciativas se seguiram de Marchas nos anos de 1935, 1940, 1947, 1950, 1952, 1955, 1958 e de 1963 a 1970 seguido de um interregno de dez anos e, desde então, deu-se continuidade até aos nossos dias.
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Este ano, mais uma vez, Lisboa decorou as suas ruas, becos e pátios a preceito com arcos, balões, bandeiras e de pequenos vasos de manjericos que enfeitavam as suas janelas e varandas para, desta forma, festejar o seu patrono, o Santo António de Lisboa, cuja data do seu falecimento, ocorrido no ano de 1231, no dia 13 de Junho, o qual foi promulgado, há longos anos atrás, pela edilidade lisboeta, feriado municipal. Este nosso Santo, nascido na cidade de Lisboa em 15 de Agosto de 1191 ou 1195, é também muito querido dos italianos sendo até chamado, por eles, de Santo António de Pádua, por ter ali vivido parte da sua vida e ali estar sepultado. Seu nome de baptismo, Fernando Martim de Bulhões e Taveira Azevedo, filho de fidalgos do reino, foi canonizado um ano após a sua morte, em 30 de Maio de 1232, pelo então Papa Gregório IX. A sua imagem nos é apresentada envergando o traje dos frades menores segurando o Menino Jesus.
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No presente ano Lisboa, como sempre nesta data, vibrou com os desfiles dos seus Bairros citadinos integrado no seu vasto programa de eventos do mês de Junho em curso, tendo o primeiro lugar da competição, uma vez mais, sido entregue ao bairro de Alfama que tem vindo arrebatar consecutivamente esta distinção desde 1999 por anos seguidos embora hajam referências desta expressão cultural desde o século XVIII.
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É pois um mês, em Lisboa, repleto de eventos culturais com concertos de jazz, fado, Marchas Populares, teatro, festivais de concertinas, semanas das casas regionais, arraiais populares e de “pride”, casamentos de Santo António, cinema, festival de bandas, atuação de artistas de renome nacional e não só, fado nos eléctricos que circulam nalgumas rotas da capital, exposições de arte e outras mais actividades que cativa os apreciadores e turistas nesta forma do pulsar da cultura Lisboeta. Que vale a pena visitar a capital, isso somos unânimes afirmar, que nesta época do ano, para apreciar a forma do pulsar cultural alfacinha e que nos é oferecida, na sua maioria, gratuitamente.
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Este ano foram 20 Marchas Populares mais umas quantas convidadas que incluía a Marcha dos Mercados, outras duas, a "Arauma Chiyyo" do folclore japonês e a Associação Desportiva do Leão Acordado Lo Leong de Macau e completado com a Confraria dos Pãezinhos de Santo António e duas Marchas Infantis, a "Voz do Operário" e a Marcha "Pequenos Pessoas" (estudantes do 1º ciclo da Escola Básica Engº Ressano Garcia) em comemoração dos 125 anos do nascimento do poeta e escritor Fernando Pessoa onde as pequenas personagens trajavam o grande poeta Fernando Pessoa e a eterna namorada Ofélia Queiroz. As Marchas nos seus trajos típicos e coloridos desfilaram a partir das 20 horas pela Avenida da Liberdade, cantando e dançando, que pensamos ter sido um trabalho dificultoso para o júri selecionar as marchas vencedoras.
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Ao meio desta larga artéria, na bancada de honra, além do presidente da edilidade, António Costa, encontravam-se presentes o ex-presidente da República, Dr. Jorge Sampaio e muitos outros nomes conhecidos do nosso mundo artístico dos quais destacamos a artista Lili Caneças.
Seria estafante falarmos dos temas e vestes de todas estas Marchas pelo que iremos apenas mencionar as duas vencedoras, a de Alfama com o tema "Al Hamma" de origem árabe significando "Fonte de Água Morna" e que deu origem à palavra "Alfama", um bairro típico e milenar de Lisboa e que esteve sempre ligado à água por estar à beira do Rio Tejo e repleta de fontes e chafarizes, estando assim em sintonia com o passado pelos aguadeiros que vendiam a água pelas ruas da Lisboa doutrora. Como padrinhos esta Marcha levava a Raquel Tavares e João Paulo Rodrigues.
As estrofes líricas e música com o título "Marcha do Aguadeiro" foi composta por João Ramos (letra) com música e arranjo de João Ramos e Carlos Dioniso:
Quem sou, o que faço, de que vivo?
Isso é contigo, é contigo!
Que trago no barril lá bem escondido?
É o que eu digo, é o que eu digo!
Tem água e foi-me dada pela santa!
Nada me espanta, nada me espanta!
Quem dela for beber, logo se encanta!
É só garganta , é só garganta!
A Marcha do Alto do Pina, a vencedora do ano transato, ficou-se numa honrosa segunda posição sob a temática "A chegada dos Portugueses à China" cujo feito completou no corrente ano 500 anos e também por esta Marcha, em representação de Portugal, ter ido a Macau nestas celebrações. A música e letra foram compostas por Toy e Carlos Mendonça.
Foi à China o Alto do Pina
E quem viu, Aplaudiu
A sua graça latina,
Relembrando os lusitanos
Que há quinhentos anos
Chegaram à China.
E ao ver a marcha passar
Parece evocar
Que o passado é coisa boa
Mas o presente é melhor
Se o futuro mais risonho
For o sonho
De uma mais linda Lisboa
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Na terceira posição colocou-se a Marcha da Bica que trouxe este ano o tema " O nosso rio é de ouro mas o peixe é de prata". Bairro "nascido", segundo o parecer de muitos, após o terramoto de 1755, e então habitado por gente humilde e ligada ao Tejo como estivadores, pescadores e varinas bem como muitas outras profissões laborais. Aqui o Tejo foi considerado como uma "mina" de ouro que sustentava as gentes deste Bairro com o peixe dele retirado e este era considerado a "prata". Foi neste Bairro, inserido em Santa Catarina, que o escriba desta reportagem nasceu e é sempre com extremosa afeição, e emoção também, que (na primeira pessoa) visito e deambulo pelas suas ruas. É o reviver do passado, ainda menino (com 7, 8 e 9 anos de idade) quando ali vivia ou agrupava com amigos.
Interessante o refrão deste Bairro que se refere a solidariedade na presente crise que vem afetando a nação Lusa:
Se um de nós tem um deslise
Logo alguém lhe dá a mão
E por isso não há crise
Que nos vá deitar ao chão
E se a coisa se complica
Aqui ninguém se dá mal
A nossa gente é mais rica
Deu o coração da Bica
À alma de Portugal
Muitos eram as personagens da vida artística portuguesa, da rádio e TV que integravam as marchas populares como padrinhos e madrinhas dentro dos muitos destacamos Anita Guerreiro, Raquel Tavares, Filipa Cardoso, Joaquim Monchique, Joaquim Bastinhas, Gonçalo da Câmara Pereira, Alexandra, João de Carvalho, António Calvário, José Figueira e muitos outros cujos nomes, de momento, olvidámos (eram tantos...).
Distinções honrosas para as marchas da Madragoa, Beato e Castelo pelo melhor figurino e no campo da coreografia foi entregue ao Castelo e Bairro Alto. A melhor letra foi atribuída `marcha de Marvila, Mouraria e Beato. Ao bairro de Alfama que vem acumulando vitórias nestes dez anos foi-lhe atribuído a honraria do melhor desfile e musicalidade.
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Finda a noite Marchas foi a vez de se celebrar o padroeiro, o Santo António, com muito povo, aos milhares, que se comprimiam e calcorreava as ruas dos muitos bairros castiços desta cidade milenar na ânsia de encontrarem espaço nos restaurantes, tascas ou casas de pasto, nos bairros tradicionais de Alfama, Mouraria, Madragoa, Bairro Alto, Campolide, Campo de Ourique, Graça, Castelo e Graça de continuar as festas nos seus pátios e até nas casas de milhares de moradores desta capital que não dormiu nesta noite de folia para festejar o seu santo padroeiro, o Santo António de Lisboa. Por todo o lado por onde fossemos víamos os fogareiros e assadeiras numa azafama na preparação das sardinhas, pimentos, batata, entrecosto, "pipis" (moelas, fígado e corações de galinhas), bacalhau, churrasco e outros petiscos tudo acompanhado com a inseparável broa (pão de milho) e claro bem "regada" com cerveja, vinho e sangria. Assim, os foliões, degustavam os petiscos cantando o fado e outras marchinhas do folclore lisboeta, até ao raiar do dia, até porque no dia 13 era feriado municipal (de Lisboa) e assim iam para a ressaca para se refazerem da ramboia.
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Deixamos os nossos parabéns ao pelouro de cultura da Câmara de Lisboa, e a Egeac também, pelo êxito festivo do corrente ano de 2013 e que não se quedou apenas pelas marchas populares mas também por um extenso programa no calendário do mês de Junho que, nestes últimos anos, tem vindo a ressuscitar o rico património cultural da capital portuguesa.
Pensamos ter sido uma tarefa bastante difícil para o júri selecionar os vencedores destas Marchas Populares pois todas elas eram um verdadeiro tesouro de cultural no trajar, no cantar e na coreografia.
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É uma tradição que, certamente, não irá morrer, este festejar do seu santo padroeiro, o Santo António, e que será perpetuado para as gerações vindouras. Toda esta riqueza cultural está, pelo que testemunhámos, bem enraizada nas suas gentes e que se manifesta não só nesta noite de etnografia e gastronomia mas também ao longo do mês de Junho sob a temática - "Lisboa em Festa", um projeto da edilidade, que inclui concertos de jazz, sessões de fado ao ar livre nas escadinhas do Bairro América na freguesia de Santa Engrácia, no Castelo de S. Jorge e nos elétricos, festival de concertinas e Coral de Verão, esta na área de Belém, e nos casamentos de Santo António iniciados na década dos Trinta, e muitos outros eventos, às dezenas, espalhados por toda Lisboa que faz desta grande metrópole o centro inigualável em todo o território nacional. Não há, dizemos, sem receio de errar, lugar onde a cultura portuguesa, e bairrista, tenha tanta ação e participação como na "velha" Lisboa. Vale a pena viver uns dias neste ambiente de festas e alegria onde nos aglutinamos com o seu povo e fazemos, ou tentamos fazer, tudo o que ele faz na sua maneira de se divertir. É uma experiência que se manterá viva por muito anos que vivamos.
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Classificação da Marchas Populares realizadas no corrente ano de 2013:
1º Alfama
2º Alto do Pina
3º Bica
4º Marvila
5º Bairro Alto
6º Madragoa
7º S. Vicente
8º Alcântara e Beato
9º Santa Engrácia
10º Mouraria
11º Castelo
12º Ajuda
13º Graça
14º Belém
15º Lumiar
16º Benfica
17º Carnide
18º Olivais
19º Penha de França
Classificação por categorias
Melhor Coreografia.................. Alfama
Melhor Cenografia.................. Alfama
Melhor Figurino..................... Alfama
Melhor Letra.......................... S. Vicente
Melhor Musicalidade.............. Marvila
Melhor Composição Original.. Ai, Ai S. Vicente
Melhor Desfile na Avenida..... Alfama
Sobre a Grande Marcha de Lisboa, vencedora neste ano de 2013, tem por título “Lisboa tem uma Festa que é só sua" é de autoria, letra e música, de Eugénio Cardoso de Carvalho Lopes (de pseudónimo Gimba). Aqui deixamos as suas líricas bem bonitas por sinal e que acompanhámos cantarolando enquanto as marchas desfilavam à nossa frente, defronte da tribuna dos convidados. É de fixar os nomes de grande parte dos Bairros Populares a nossa capital inseridos e a referência ao aniversário quinhentista do Bairro Alto.
GRANDE MARCHA DE LISBOA 2013
Refrão
Vem Alfama e Mouraria
Olivais, Alto do Pina
Madragoa, Ajuda e Bica
Vem Belém, Castelo, Graça
S. Vicente, Santa Engrácia
Vem Beato e vem Benfica
Vem Também Limiar!
Vem Marvila e Penha de França
Vem Carnide e vem Alcântara
A puxar pelas goelas
Vêm juntos, cantam alto
Todos dão ao Bairro Alto os parabéns
E um bolo com quinhentas velas!
Antes acabarmos com esta nossa reportagem gostaríamos de reproduzir a mensagem de António Costa, presidente da Câmara Municipal de Lisboa, em que realça a fibra dos habitantes da Capital perante a atual crise e as dificuldades. Achamos interessante e abaixo a deixamos para os nossos leitores:
"Lisboa é uma cidade viva. Só uma cidade viva e vibrante tem umas Festas da Cidade como as nossas, tão genuinamente populares, com evocação de Santo António de Lisboa, o mais popular dos Santos Populares de Lisboa.
A dimensão visível das marchas - que animam o Meo Arena (antigo Pavilhão Atlântico) e se espraiam pela Avenida - nem sempre revela o árduo trabalho, prolongado por longas horas, dias e meses que antecedem o cortejo, em que bairros, coletividades, artistas e tantas e tantas pessoas se concentram, se unem e se preparam para o grande dia.
É claro que há complementaridade entre os vários bairros e coletividades, mas procura-se e vive-se um bairrismo saudável, em que um não se opõe ao outro, mas simplesmente quer fazer melhor. Este desejo de superação sente-se de modo ainda mais intenso dentro de cada marcha, que de ano para ano procura progredir na qualidade da sua criação e na forma como chega às nossas gentes.
Num trabalho sem cansaço anímico, mas feito de inúmeros esforços físicos e força de vontade, em que cada coletividade pretende brilhar o mais que pode na manifestação popular que celebra o nosso Santo António.
Lisboa está em Festa. As dificuldades - e são tantas....- não se esquecem, certamente, mas as Marchas mostram a nossa garra, a fibra dos lisboetas.
A fibra das gentes que não desistem, que seguem em frente, procurando progredir e superar-se, dia após dia, mês após mês, ano após ano.
É este espírito que Lisboa revela, materializando nos marchantes desta Avenida que leva o sagrado nome da Liberdade.
Viva Lisboa!
Vivam os lisboetas!
Vivam as Marchas de Santo António!"
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Esta reportagem concretizou-se devido ao gentil patrocínio das seguintes firmas da nossa praça: Ganadaria Sol e Toiros Inc, Europa Catering & Europa Convention Centre, Joseph e Patrick Vieira Insurance, Macedo Wine Grapes Juice e Bento's Auto Tire Centre. Aqui ficam os nossos agradecimentos ao Élio Leal, Manuel de Paulos, Joseph & Patrick Vieira, David Macedo e Bento de S. José, respetivamente, tornando assim possível, mais uma vez, termos a presença dum nosso enviado especial nas Festas de Lisboa de 2013. Para todos os nossos patrocinadores e amigos, um muito obrigado.
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